terça-feira, 16 de outubro de 2012

Bata um pouco de aversivo, com positivo, junte uma pitada de abuso e por fim uma punição no topo


Eu diria que a grande grande maioria das pessoas que usam aversivos em cães fazem-no porque não conhecem formas alternativas de lidar com determinada situação.

Eu como comecei por usar técnicas e métodos aversivos no treino de cães, sei exactamente que o uso de aversivos não está, necessariamente, aliado ao abuso de cães.

Também não considero uma palmada, um esticão numa coleira, ou um grito um abuso, muito menos considero que a pessoa que a dá possa ser acusado de abusador de animais.

Um abusador de animais para mim é uma pessoa que baseia o relacionamento que tem com os seus cães especialmente na intimidação.

Intimidação é o acto de fazer com que outros façam o que alguém quer, através do medo. A intimidação é a resultante do desajuste da compulsão competitiva normal de dominância inter-relacional, geralmente vista em animais, mas que é mais completamente modulada por forças sociais em seres humanos. A intimidação pode ser empregada conscientemente ou inconscientemente, e uma porcentagem das pessoas que a utilizam conscientemente pode agir assim como resultado de noções racionalizadas de sua propriedade, utilidade ou auto-capacitação. A intimidação pode se manifestar sob a forma de ameaça física, expressões ameaçadoras, manipulação emocional, insultos verbais, constrangimento proposital e/ou ataque físico real.

Abuso no treino de cães

Mas existe sim abuso de cães feito sob a desculpa de treino.

Vejam por exemplo este vídeo (aviso aos mais sensíveis que pode ser extremamente difícil ver este vídeo)

http://www.petapreview.com/4preview/dog_beating_video.asp

Esta pessoa que aparece no vídeo é um treinador de cães, tendo treinado imensos cães durante anos e tem um negócio estabelecido nos EUA com muitos clientes.

No vídeo assistimos à aplicação de uma técnica aversiva baseada no reforço negativo e castigo positivo. Consiste em administrar um choque eléctrico ao cão e apenas cessá-lo quando ele fizer o que queremos. O cão aprende a pegar no objecto rapidamente quando dizemos "pega" porque se não o fizer levará um choque eléctrico. Para o resto da vida para este cão a ordem "pega" funcionará uma indício que está na altura de evitar choques eléctricos pegando no objecto. O que motiva o cão é evitar o aversivo.

Se o choque é doloroso, assusta, ou é apenas incomodativo, isso não sei, sei apenas que é aversivo o suficiente para que o cão faça o que lhe está a ser pedido, sem hesitação.

Quando ele bate no cão com o pau que está na mão, está a bater no cão porque este estava a tentar fugir dele. O treinador diz em inglês ao assistente: "Segura nesse cabrão" - referindo-se ao cão e depois aproxima-se do cão e diz "Ai queres fugir? Foge agora, foge!" enquanto lhe bate repetidamente com o pau.

Se você não considera isto abuso de um animal que se encontra indefeso preso, não pode fugir e que não se defende então a pergunta é, o que é abusar de um animal?

Treino positivo é extremismo?

Eu considero a situação acima extremista, e não considero que todos os treinadores que usam métodos aversivos façam tal coisa.

No entanto eu já treinei inúmeros cães a pegar e largar objectos sob comando com perfeição e sem problema nenhum, usando unicamente reforço positivo. Assim como, no passado, treinei o mesmo usando métodos aversivos.

E assim como inúmeros treinadores por esse mundo fora, que começaram por praticar métodos aversivos, evoluimos e aprendemos a treinar cães a efectuarem os mais diversos e complexos comportamentos sem administrar uma única punição. Ou seja  aprendemos a treiná-los na base da cooperação ao invés da intimidação.

Então para treinadores como nós, quando assistimos um cão ser incessantemente submetido a choques eléctricos para pegar num objecto, é muito muito difícil não pensar duma forma emotiva, ética e moral.

Eu consigo compreender que um dono de um cão dê uma palmada ou use uma estranguladora. Muitos donos são mal aconselhados, muitos desconhecem outras formas de conseguir resultados, outros estão mal informados, outros até simplesmente fazem o que sempre viram outros fazer ou sempre fizeram. É para esses donos de cães que eu estendo a mão e são esses que têm o meu respeito, apoio e incondicional atenção.

Mas se falamos de treinadores então não sou tão compreensiva. Porquê? Simplesmente porque o trabalho de um treinador é estar actualizado, informado e ser profissional. Se hoje em dia se consegue o mesmo ou melhor sem submeter os cães a estes métodos e ferramentas, a questão permanece, porquê continuar a fazê-lo? Treinadores que insistem e resistem em mudar a forma como treinam os cães não mercem o respeito que dou aos donos que me procuram. E treinadores como o das imagens são no meu livro abusadores de cães.

Todos concordamos que os cães devem ser treinados, educados, devem ter regras e disciplina. No que treinadores aversivos e positivos discordam é na forma como obtêm esses resultados.

Os treinadores positivos obtêm resultados preocupando-se maioriatariamente com o respeito ao animal e trabalhando na base da cooperaçao plena do mesmo.

Treinadores aversivos escolhem obter um resultado sem sequer equacionar a forma como os obtêm. Atingir um fim sem olhar aos meios, é um cenário extremamente injusto para o animal.

Positivo não é permissivo!

Recentemente numa entrevista que dei para a revista do Público, a P3 disse acerca do método de treino que uso:

O método que usa premeia mais os bons comportamentos do que castiga os maus. É aquilo a que chamam treinar por “reforço positivo”. “O tipo de relacionamento que se consegue construir é algo que só quem experimenta percebe”, garante.

E que caia a ideia de que “os treinadores positivos são uns utópicos que se agarram às árvores, dão beijinhos aos cães e nunca os punem”. A diferença é que não o fazem com violência, coleiras que estrangulam ou qualquer coisa que cause medo ao animal.

A definição e entendimento deste tipo de treino é melhor entedido pelas palavras de quem o usa diariamente e portanto acabemos com a ideia falaciosa de que os treinadores positivos não castigam os seus cães.

A diferença entre os castigos aplicados por um treinador positivo é que estes não se baseiam na intimidação do cão, muito menos se baseiam no comportamento errado. Quando ele surge um treinador positivo, pune e interrompe imediatamente o comportamento diminuindo a sua frequência através do castigo negativo e imediatamente dispende o restante tempo a treinar o cão a fazer o que nós queremos.

Eu diria que o treino positivo é inquestionavelmente um método de treino mais produtivo e eficaz. Eu não fico à espera que o cão faça algo errado para ter a oportunidade de punir, e não me passaria pela cabeça propositadamente fazer com que o cão faça algo "mal" para depois punir, que é precisamente a premissa do treino baseado nas punições. Eu prefiro investir o tempo a treinar eficaz e efectivamente o cão para que este aprenda o que eu quero e para que eu possa estabelecer regras, limites, ensinar comportamentos, educar e treinar, de uma forma proactivo ao invés de reactiva.

domingo, 7 de outubro de 2012

Não há raças de cães perigosas, há cães (e donos) não educados

A “It’s all about dogs” não tem um espaço físico. Cláudia trabalha com os animais nas suas casas – é lá que passam grande parte do tempo – ou em locais onde demonstrem comportamentos menos correctos (na rua se puxam demasiado a trela, perto da casa da vizinha se não param de ladrar ao cão).

O método que usa premeia mais os bons comportamentos do que castiga os maus. É aquilo a que chamam treinar por “reforço positivo”. “O tipo de relacionamento que se consegue construir é algo que só quem experimenta percebe”, garante.

E que caia a ideia de que “os treinadores positivos são uns utópicos que se agarram às árvores, dão beijinhos aos cães e nunca os punem”. A diferença é que não o fazem com violência, coleiras que estrangulam ou qualquer coisa que cause medo ao animal.

Entrevista com a P3